terça-feira, setembro 29, 2009

Me despindo

Juntei as notas na parte de trás do meu caderno num texto só, ei-lo:         

          "Deprimida outra vez, não cabe no próprio corpo e sente ser um erro vivo. Sempre sentiu isso. Desde o maternal. A memória da festa junina na escolinha permanecia. Aquele frio na barriga de pensar em toda aquela gente olhando para ela. Sempre fora assim, não sabia o porquê do inconformismo justo agora.
         Aquilo a pegava mesmo entre amigos. Era normal: De repente olha pro lado e afunda.
         Introspectiva. A professora da oitava série a adjetivara assim uma vez. Na hora achou bonito, depois sentiu-se autista.

        Não havia acordado para inflação naquele dia. Poesia, suplicava. Mas só naquela hora. Porque a fome de drama vinha com a depressão, que por sua vez, gritava especificamente no meio do semestre.
       Tentava, mas não conseguia se concentrar no que o professor dizia. Porque, para ela, ele não dizia muita coisa. Não queria ouvir sobre economia, esse assunto tinha entrada proibida no seu cérebro. Pelo menos naquele momento.
       Corria pro que haveria de ser, pro 'e se..', 'e quando..'. Tinha medo de um dia engravidar e virar uma baleia mitológica mãe. Ria-se, apesar do trágico.

       Pensava em tomar ritalina. Queria prestar atenção. Queria exibir números. Queria mais. Queria absorver tudo aquilo, sabia da importância. Era uma solução de 80 reais.
       Serviria no próprio corpo, estaria segura se sentisse que era parte de algum meio. Apesar daquele meio não lhe cair muito bem.

       Lembrou das coisas que já sabia, das coisas que gostava. Percebeu, instantaneamente, que só aprendia, de fato, aquilo que precisava, aquilo com que tivesse alguma relação. Nela, só havia aprendizado quando acompanhado de uma necessidade.
     Não se encaixava naquele método, porque funcionava a base de emoção, de interação. Não era austista. Precisava de contato. Era sinestésica."

 Escrever me serve de espelho. Me vejo nua aqui.

2 comentários:

Unknown disse...

Gosto de como escreve. (olha que é difícil eu ler algum texto na internet com satisfação)

Unknown disse...

Pode ser que meu poema nem tenha título, haha.

Vale a pena seguir seu blog. =)